sábado, 4 de maio de 2013

2. Breves contribuições do funcionalismo para o ensino de gramática


Por que não tornar o ensino de língua portuguesa em sala de aula algo mais
prazeroso? Relacionando reflexão e uso diário da língua, ou seja, o seu funcionamento?
Para isso acontecer é necessário que o professor “transforme” o aluno em um usuário
competente da língua, com domínio funcional diante de um texto, e com conhecimento
sobre o funcionamento da linguagem.
Tendo essa noção como base, os estudos funcionalistas em seu viés teórico
podem constituir-se em um elemento importante para a prática do professor.
O funcionalismo superou os estudos formalistas, aqueles que veem a língua
como imutável e desligada do contexto comunicativo. Isso porque segundo Furtado da
Cunha (2008, p.157), o funcionalismo “[...] se preocupa em estudar a relação entre a
estrutura gramatical das línguas e os diferentes contextos comunicativos em que elas
são usadas”. Para Neves [...] o funcionalismo é uma teoria que se liga, acima de tudo, aos fins a
que servem as unidades linguísticas, o que é o mesmo que dizer que o
funcionalismo se ocupa, certamente, das funções dos meios
linguísticos de expressão. (2006, p.17)

A linguagem no funcionalismo é observada em seu contexto sóciocomunicativo, em seu uso real. O foco passa a ser a relação da língua com o meio,
deixando de ser vista como autônoma e estável, noção defendida pela linguística formal,
que se limitava em descrever a língua desconsiderando o contexto comunicativo.
Esse novo rumo tomado pela linguística, e esse novo olhar lançado sobre a
linguagem faz cair por terra a concepção de que para aprender gramática é necessário
memorizar suas regras.
Levando em consideração o pensamento funcionalista, não devemos nos
limitar a frases e períodos isolados, mas empreender em nossos estudos gramaticais os
atos enunciativos do discurso, afinal “quando falamos, criamos frases, que, juntas
formam um texto coeso e coerente com a situação em que é empregado. O
processamento desse texto é o discurso”. Wilson; Martelotta e Cezario (2006, p.234).
Furtado da Cunha sobre isso escreve:
Nesse quadro, as análises linguísticas se baseiam no uso concreto da
língua pelos falantes, admitindo que a gramática se molda a partir do
uso linguístico que se dá em situações comunicativas. A gramática é,
pois, o resultado da cristalização ou regularização de estratégias
discursivas recorrentes, que decorrem de pressões cognitivas e,
sobretudo, de pressões de uso, as regularidades observadas no uso
interativo da língua são explicadas com base nas produções
discursivas em que se verifica esse uso. (2007, p.116)
Assim, podemos entender que existe uma relação comum entre discurso e uso
real da língua, visto que, nossas escolhas ao selecionarmos as palavras para falar não
acontecem de maneira aleatória, mas das condições de produção desse discurso.
Diante de tudo que foi discutido, podemos entender o funcionalismo linguístico
numa perspectiva que busca contemplar o uso da língua, partindo da premissa que ela
sempre está em constante elaboração, num processo nunca totalmente acabado.
Com as leituras em Vidal (2009) compreendemos um pouco mais sobre a
relação de semelhança existente entre as bases teóricas apresentadas nos PCN e as do
funcionalismo linguístico contemporâneo, ambos entendem que a língua só se efetiva
no uso. “A base teórica como enunciada pelos PCN absorve esse propósito
funcionalista, fato esse que evidência a viabilidade do aparato funcionalista oferecer
suporte para o ensino de Língua Portuguesa”. (p.158)
Assim como o funcionalismo, os PCN consideram a língua heterogênea,
variável. Além de considerar o uso fundamental no estudo, os Parâmetros Curriculares
Nacionais tomam o texto como prioridade para o ensino da língua. Para Vidal (op. cit.):
Nesses termos, no que tange ao funcionalismo linguístico
contemporâneo, o texto é o verdadeiro objeto linguístico com que se
defronta cada usuário nos eventos de interação. Esse ponto de
convergência entre a abordagem funcionalista e a proposta dos PCN
aponta e ratifica que a fundamentação dos PCN apresenta identidade
teórica com o funcionalismo linguístico e sugere que, na sala de aula,
o professor lance mão do texto, tanto na forma oral quanto escrita,como também faça circular, no ambiente educativo as diversas
manifestações dos gêneros textuais. (pp.159-160)
Com essas observações, podemos entender que a gramática nasce do uso e
possibilita a inclusão do individuo usuário da língua no universo letrado, no intuito de
desenvolver sua competência sócio-comunicativa. O professor não mais pode limitar-se
aos conhecimentos dados pela gramática tradicional, uma vez que, além das formas
consideradas regras, existem também, as que fazem parte do repertório usual dos
falantes da língua, cabendo ao professor descrever esses usos que fogem da tradição.

Fonte: http://www.gelne.org.br/Site/arquivostrab/1020-GELNEPDFKELLY.pdf
Mizilene Kelly de Souza Bezerra (UERN)
 Rosângela Maria Bessa Vidal (UERN)


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