quarta-feira, 8 de maio de 2013

A reflexão gramatical na prática pedagógica


O ensino de língua portuguesa vem passando, nos
últimos anos, por mudanças que buscam a melhoria de
sua qualidade. Esse esforço político-pedagógico pode ser
reconhecido na elaboração dos PCNs, que propõem “um
projeto educativo comprometido com a democratização
social e cultural (que) atribui à escola a função e a
responsabilidade de contribuir para garantir a todos os
alunos o acesso aos saberes lingüísticos necessários
para o exercício da cidadania (p. 19)”. Dessa forma,
entendemos que há a tentativa de um deslocamento entre
a tradicional aula de português, que, por não considerar
a reflexão sobre a linguagem, visa apenas ao ensino de
normas gramaticais, e a prática pedagógica inclusiva,
que busca, através das discussões acerca da linguagem
(suas funções, suas práticas), construir um aluno-sujeito
que consiga deslizar entre os registros de língua, que
entenda e respeite as variedades, que leia os pressupostos
e não-ditos, que faça coisas no mundo através da linguagem, enfim, que seja um verdadeiro cidadão.
Contudo, buscar a construção dessa prática pedagógica não significa a exclusão da reflexão gramatical
do programa de ensino a ser desenvolvido. Esse assunto,
inclusive, é trazido pelos PCNs:
O que deve ser ensinado não responde às imposições
de organização clássica de conteúdos na gramática
escolar, mas aos aspectos que precisam ser tematizados em função das necessidades apresentadas
pelos alunos nas atividades de produção, leitura
e escuta de textos. O modo de ensinar, por sua vez, não reproduz a clássica metodologia de definição,
classificação e exercitação, mas corresponde a uma
prática que parte da reflexão produzida pelos alunos
mediante a utilização de uma terminologia simples e
se aproxima, progressivamente, pela mediação do
professor, do conhecimento gramatical produzido.
Isso implica, muitas vezes, chegar a resultados
diferentes daqueles obtidos pela gramática tradicional, cuja descrição, em muitos aspectos, não
corresponde aos usos atuais da linguagem, o que
coloca a necessidade de busca de apoio em outros
materiais e fontes (p. 29 – grifamos).
Refletir, em sala de aula, sobre o funcionamento da
linguagem é, a nosso ver, fundamental para o desenvolvimento da capacidade discursiva do aluno. Isso porque
“Um dos aspectos da competência discursiva é o sujeito
ser capaz de utilizar a língua de modo variado, para
produzir diferentes efeitos de sentido e adequar o texto
a diferentes situações de interlocução oral e escrita”
(PCNs, p. 23). Se a gramática tradicional, pela sua
própria constituição, não dá conta da descrição de usos
efetivos da língua, seguiremos a indicação dos PCNs e
buscaremos apoio em outros materiais e fontes.
Antes, porém, cabe discutir o lugar que os aspectos
gramaticais têm numa aula de língua materna concebida
a partir do que formula os PCNs.

Fonte: Revista Eletrônica , Tanara Zingano Kuhn
PPG-Letras da UFRGS
Valdir do Nascimento Flores
Doutor em Lingüística Aplicada, Professor do Instituto de Letras da UFRGS

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